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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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EUA podem "passar a mão" em US$ 268 bilhões da Rússia

No afã vão de combater seus “inimigos” e recuperar antiga hegemonia, os EUA estão comprometendo credibilidade de sua moeda e de todo sistema financeiro mundial

Joe Biden e Vladimir Putin (Foto: Reuters)
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Na última terça-feira, o Senado dos EUA aprovou o novo pacote ajuda militar à Ucrânia, Israel e Taiwan. São US$ 95, 3 bilhões em ajuda. Para a Ucrânia, são US$ 60,8 bilhões. Muito dinheiro. Boa parte, entretanto, é para repor estoques gastos pelos EUA.

Biden disse ao Wall Street Journal: “Enviaremos equipamento militar dos nossos próprios estoques e depois utilizaremos o dinheiro autorizado pelo Congresso para reabastecer esses estoques, comprando-os a fornecedores americanos. Isso inclui mísseis Patriot fabricados no Arizona, mísseis Javelin fabricados no Alabama e projéteis de artilharia fabricados na Pensilvânia, Ohio e Texas.”

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Mas cerca de US$ 13 bilhões irão para o fornecimento de armas mais sofisticadas, como sistemas ATACMS de longo alcance (300 km.), bem maior que os utilizados até agora. Com esse alcance, os ucranianos poderão atingir, inclusive com bombas de fragmentação, alvos bem no interior da Crimeia. 

A ideia, evidentemente, é evitar o iminente colapso militar da Ucrânia, o que seria um desastre eleitoral para Biden; e também estimular a indústria de defesa dos EUA.

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O presidente Biden também prometeu: “Assinarei imediatamente esta lei para enviar um sinal ao mundo inteiro: apoiamos os nossos amigos e não permitiremos que o Irã ou a Rússia tenham sucesso”.

Os aliados transatlânticos de Washington também estão mobilizados, como se verificou com a reunião virtual do Conselho OTAN-Ucrânia a nível dos Ministros da Defesa Aliados, presidida pelo Secretário-Geral Jens Stoltenberg, em Bruxelas, no último sábado.

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O porta-voz do Pentágono, major-general Pat Ryder, revelou   que a administração Biden está considerando enviar conselheiros militares adicionais para a Ucrânia, uma vez que “as condições de segurança evoluíram”. Há notícias de que a França já teria enviado “assessores militares” para Odessa.

Não bastasse, a lei aprovada também prevê o banimento da rede social chinesa Tik Tok ou sua venda compulsória a estrangeiros. A “acusação” seria o suposto envio de informações para o governo chinês. Uma acusação no mínimo curiosa, vinda de um país que obriga suas big techs a enviar os dados dos usuários para a NSA. Elon Musk, o “libertário”, se submete a essa regra.

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Entretanto, o mais preocupante nessa nova lei de ajuda dos EUA é aquilo que favorece o confisco de ativos russos já “congelados” para financiar a Ucrânia. Não é pouca coisa. São cerca de US$ 268 bilhões em ativos financeiros “congelados”. 

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov bem destacou que isso “é essencialmente a destruição de todos os fundamentos do sistema econômico. Isso é uma usurpação da propriedade estatal, dos ativos estatais e da propriedade privada. Isto não deve de forma alguma ser interpretado como uma ação legal – é ilegal. E, consequentemente, estará sujeito a ações retaliatórias e processos judiciais.”

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Obviamente, a intenção americana é, em primeiro lugar, forçar a UE a seguir uma trajetória semelhante e, assim, destruir quaisquer perspectivas residuais de reconciliação entre a Rússia e a Europa durante muito tempo.

Em segundo lugar, fornecer os meios para utilizar, em última análise, os ativos “congelados” da Rússia com o intuito de gerar negócios para o complexo industrial militar dos EUA. 

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Em terceiro lugar, e mais importante, criar um precedente geopolítico para ser usado em qualquer confronto futuro entre o Ocidente e a China.

Beijing entendeu perfeitamente a pretensão de se criar um precedente extremamente perigoso. Segundo Beijing, isso estabelecerá um “precedente desastroso contra a ordem financeira internacional existente”.

Com efeito, esse uso político e claramente ilegal do sistema financeiro internacional tende a comprometer toda a economia internacional.

Nenhum país estaria a salvo. Qualquer um que tenha ativos em dólares ou euros poderia ser atacado dessa forma, inclusive o Brasil. 

Além se serem “congelados”, os ativos soberanos poderiam também ser “confiscados”, sob quaisquer motivos. 

É por tais razões que crescem, no mundo inteiro, as desconfianças em relação ao dólar e ao sistema financeiro nele assentado. Não se trata apenas do imenso déficit dos EUA, sempre agravado pelos gastos bilionários com guerras e conflitos. O caso é que ninguém gosta da ameaça de ver seus ativos “congelados”, muito menos roubados.

No afã vão de combater seus “inimigos” e recuperar sua antiga hegemonia absoluta, os EUA estão comprometendo a credibilidade de sua própria moeda e de todo o sistema financeiro mundial.

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